sábado, 21 de janeiro de 2017

Difícil de achar

Estou a procura daquele detalhe, daquela obra de arte que sinto essencial só quando a encontro. O belo cotidiano, o plastificado parecem esconder a verdadeira beleza natural. A essência solar é difícil de achar, pois o sábio carrega a luz coberta para que essa não cegue a quem não está acostumado. O garoto gostava do clima nublado e do barulho da chuva e do que não sabia descrever. Às vezes teve certezas fracassadas e amigos invisíveis.
Martin pensava poder controlar o tempo, pois quando estava chateado acontecia grandes tempestades e vendavais. Talvez o tempo o controlava ou era só uma coincidência. Gostava de se apegar a essas incertezas e era difícil conviver com o mundo exato e belo. O mundo maquiado, penteado, drapeado e chaveado. Deixara as janelas abertas que a chuva molhou seus móveis e apenas os secou e pensou se essa água os estragaria ou se só não gostava de ver as coisas  molhadas. Contemplou a tristeza como um estado de paz interior e quietude, talvez não fosse a tristeza em si e sim uma tristeza perto da euforia do mundo a sua volta. Se emocionou com os acordes de uma música que nunca ouviria mas que lhe completamente familiar. Amou as pessoas erradas e as certas, odiou a todos nos dias que estava cansado e dormia quando chegava do trabalho e ficava acordado de madrugada contemplando coisas só suas, pesquisando sobre história, arte e vidas.
Comprou chapéus e sapatos em um brechó e os usou muito pouco. Usou muito camisas xadrez, bebeu café pelas manhãs solitárias e gostou.