domingo, 3 de janeiro de 2016

Depois de zerar games e escrever romances


Estefan passou todo ano jogando videogame entre suas atividades do dia a dia. Mesmo lhe faltando tempo para suas obrigações, ele reservava momentos para o lazer digital. Fazendo que ficasse cada vez mais obcecado em passar por todas aquelas fases surreais de um jogo sem sentido algum. De certa forma, cada ponto ganho lhe trazia uma esperança, uma motivação para continuar jogando, uma motivação para acordar de manhã com ânimo para trabalhar. É surpreendente, pois aquilo que depois que cumprisse não lhe traria nenhum benefício material, aliás ele mais perdia ao tempo e dinheiro do que ganhava. Mas ganhava em bem-estar e em tranquilidade. O jogo cotidiano ainda lhe trazia um convite a sociabilidade que era pouca para ele, pois era muito reservado. Embora ele não ligasse muito em compartilhar seus feitos, isso acabava acontecendo naturalmente como parte do processo de se jogar, as vezes era útil para conseguir alguma dica de como passar aquela fase que parecia impossível. Tampouco ele gostava de jogos online onde podia conviver com pessoas a todo momento digitalmente falando.
De fato, videogame não era um meio e sim um fim. Porém, talvez isso fosse mais para sua cabeça, porque sabia que jogando vivia um mundo paralelo a de sua rotina de professor de informática. Embora seu trabalho fosse também relacionado ao mundo digital, lhe dava pouco prazer, mas era o que sabia fazer bem, ensinar as pessoas a viverem nas redes nos bits. Por vezes, encontrava alguém com as mesmas habilidades que as suas e trocava alguns momentos de conversas sobre como era emocionante a solidão conjunta a eletrônicos. Nessa sociedade dos jogos também havia mulheres, algumas com as quais se relacionou, pensava que muito provável iria casar com uma jogadora. Sempre acontecia uma paixão de verão pela cosplay do último que evento que fora para comprar aqueles jogos raros. Não via nada demais nos eventos que frequentava como alguns adolescentes os viam.
Bem, agora estava pensando em prestar uma graduação. Nesta época da sua vida os jogos o interessava menos. Procurava um desafio maior para si mesmo. Através dos sites com que compartilhava informações com outros jogadores, se interessou pelo estilo de jogo RPG, no qual as pessoas desempenhavam uma função no jogo, vivia o personagem. Esse possível jogar RPG tanto com tabuleiro tanto pela internet. Assim, começou as escrever pequenas ficções para basear os jogos. Agora precisava se reunir com os jogadores frequentemente, as vezes pessoalmente e outros online. O ambiente desses jogos em sua maioria eram vilas medievais com alguns elementos fantasiosos de mitologias antigas. Por mais que a maior inspiração para criação dessas histórias fosse o conhecimento de lendas e livros antigos, uma coisa o interessava cada veze mais e era constante fonte de inspiração. A medida que foi convivendo com as pessoas dentro desses jogos e na faculdade, foi acrescentando em suas estórias parte da personalidade das pessoas que conhecia. Assim começou a reparar nos hábitos até de desconhecidos. As suas ficções estavam além do que necessitava seus jogos e não sabia mais o que fazer com elas, através de sua faculdade de jornalismo viu que podia se tornar um escritor.
Sua vida agora tinha vários possíveis caminhos a seguir, mas alguns destes em direções opostas. Pelo haveria de tomar algumas decisões difíceis e conciliar atividades e pessoas divergentes. Começou a namorar uma garota do teatro que se encantava com as suas criações, porém não gostava nada do mundo digital. Ele, por mais que tenha mudado, ainda não gostava do palco e nem da exposição excessiva. Esse romance estava para se tornar uma grande sociedade com benefícios mútuos, e com possíveis conflitos entre os dois também. Percebia agora que a vida o levava para um caminho de realizações, ainda que estas vinham com a necessidade de abandonar conquistar passadas. Não sabia se isso era uma evolução ou uma metamorfose. Neste momento ele precisava de balancear as coisas, e decidiu que passaria certa parte do seu tempo desligado do mundo para deixar o mundo agir nele mesmo, perdendo o controle da sua vida e apreciar um pouco da viagem que estava fazendo.

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