quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Mar

Mergulhei e senti de todos os lados a água fria, aos poucos meu corpo foi se acostumando com a temperatura e me senti bem ali. Percebi que não se chegava ao fundo tão rápido, que a água determinava limitava os movimentos e enriquecia as sensações. Quando se chegava ao fundo, via sempre coisas únicas que fascinavam, mas logo tudo passava e aumentava a ansiedade de voltar a estar lá. Com o tempo percebi o tempo do mar e foi acostumando a respeitá-lo e ficando com a marca do seu sal. Mas sempre era pego de surpresa, e ao sair molhado da praia percebia que amanhã começaria tudo de novo. Ja não pensava mais em tempo e nem sentia mais obrigação de velejar, muitas vezes o mar só estava em quadros no meu quarto, ou num oceano de emoções. Meu contato com a água sempre foi volúvel, uma paixão  que marca, que dói e que volta. Escondi minhas intenções e mergulhei muitas vezes a noite, compartilhei minha solidão ou lhe usei de pretexto a algumas companhias. Não queria tornar o mar poético, pois seria sim sedutor. Quis ensinar a lição a outros, mas sabendo que seria em vão. Tinha necessidade própria de compartilhar o conhecimento dos perigos que a vontade nos causa, mas sabendo que todos tinham direito de correr o perigo de sonhar, de arriscar a se afogar, não posso controlar a sorte de outros e também não ficar agustiado por temê-la, então tive de aprender a dividir o mar.