sexta-feira, 19 de junho de 2015

A cor das pérolas

Estava ela a andar pelas ruas do centro de sua cidade com saia lápis preta, um blazer de lã xadrez e uma echarpe branca de cetim. Passou pelo starbucks e comprou um café e foi bebendo no caminho ao trabalho. Quando chegou em sua sala organizou uns processos e despachou o que pode, queria ir embora logo mas ao mesmo tempo não tinha o que fazer depois do trabalho, por isso sua pressa era sem fundamento, mas também aquilo não a divertia depois de uma semana inteira mexendo com burocracia jurídica. Guardou suas coisas, despediu de algumas pessoas e foi embora. Andando com muita pressa quase esbarrando nas pessoas ou sendo esbarrada pelos outros talvez com mais pressa ainda. Quando chegou no metrô sentou e buscou um livro em sua bolsa, de repente viu na etiqueta de sua bolsa escrito cor branco nacarado. Pensou o que seria nacarado, pesquisou no dicionário do seu celular e viu que se tratava da cor das pérolas. Apesar de gostar de algumas jóias ela nunca tinha reparado muito em pérolas, achava-as muito clássicas demais. Leu algumas páginas do seu romance pós-moderno, gostava da irrealidade tão concreta da ficção. Achava a rotina superficial demais. Havia também desistido de poetizar a vida e queria só ser previsível no que restava desse dia. Chegou em casa e fez um belo macarrão para si mesma, aproveitava sua vida solitária enquanto podia ser chata só consigo mesmo ou beber uma taça de vinho branco sozinha. Atendeu um telefonema de amigos e parentes antes de dormir, isso fazia a sentir que ainda era um ser humano, e talvez melhor também. Regou suas plantas que por felicidade ainda estavam bem apesar de não ser tão atenciosa com elas. Começou a fazer mil planos para o fim de semana mas acabou dormindo.