domingo, 11 de janeiro de 2015

Kennedy

Salão festivo cheio de cores, de humor, sabores, bebidas. Risos, alegria e tédio preguiçoso. Mesmo assim não estava nem um pouco alegre ou contagiado. Aquele clima, de estação quente, de sorriso contido desenhado na face, o dele de cara distante. Com muito sono da vida, andando pelo local, fazendo suas obrigações, aliás tudo queria era isso obrigações a fazer, ser necessário prestativo, pois não queria estar a lazer ali como todos estavam, não que não gostasse das pessoas ali, talvez só estivesse chovendo por dentro, o que era natural, o tempo muda a todo tempo. Queria estar dormindo, talvez se estivesse numa cama, não estaria, só tinha aquele sentimento de fazer alguma outra coisa que provavelmente não faria, ainda bem que estava ali então, perfeito, estava muito feliz dessa maneira: chuvoso, entediado e com sono, ainda bem que bebera café algumas horas antes. Ainda bem que caminha em parques e praças algumas semanas antes. Estava na verdade afundando nas suspeitas de suas não habilidade e em ser ou querer nada, ou de estar tudo meio errado. Tinha a sensação de seu lugar comum estar muito longe dali, talvez em outra dimensão ou outra época, tudo lhe parecia errado, anti-ético. Estava apenas a apreciar o movimento, o decorrer do dia (dos dias), do mundo andando por si só como se estivesse fora deste e tivesse deixado o roteiro de sua vida engavetado, como se tivesse tomando e fazendo barulho com canudinho caldo de cana no sol a pino das duas da tarde no meio do expediente. Tanto que este personagem deveria ter mais ação para um conto, pois se estivesse num filme este só teria uma cena com uma longa narração até aqui, ou na verdade ele estaria assistindo outro filme. Talvez ele fosse mais importante do que isso, mas o negócio era que estava meio desanimado demais para protagonizar algo, na verdade tem muitas pessoas que passam o dia inteiro andando de meia pela casa (dias importantes), porque isso seria ruim, talvez, depende da meia.
Seus pensamentos ainda tinham algo de prazer, de vivo, de florescente. Alguns sonhos ainda, na verdade realidades, supostas realidades, medo de seguir em frente, extrema cautela. Seu programa ideal de fim de semana era sempre substituído pelo que fosse mais seguro, não ousava mais,  apostaria só se valesse a pena, mas sem medo do dinheiro perdido, mas esse desapego mesmo assim não o faria correr atrás de algo que simplesmente não fosse a melhor coisa do mundo para si. Coisas impressionantes acontecem de forma ordinária, corriqueira, no meio de vários acontecimentos inúteis, inúteis porque o são visto assim porque alguém às vezes enganosamente. Ele tem de suas paranoias, de suas fantasias, que achar que tudo pode estar acontecendo por uma mágica razão que lhe satisfaz, uma ilusão quase bêbada. Mas às vezes as coisas acontecem estranhamente, talvez por acaso. Ele esperava que fosse centro da atenção de tal pessoa, mas esperava isso no meio de sua prepotência. Porém quando lhe fixado o olhar, imaginou ser normal, lógico, estavam olhando para ele, mas, fixou o olhar e ficou, ficou, e ele olhou, e queria mesmo olhar, e viu que isto estava fora até do que lhe havia previsto, ou imaginado. Naquele olhar se sentiu observado por dentro e ao mesmo não viu mais do que um olhar, olhar belíssimo, surpreso, mas nada mais. Mas era isso o que esperava e o que admirava, desde há muito não sentia essas pequenas sensações de tudo fazer sentido.

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