quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Deep

Passava ele pelo museu, na hora de seu almoço, trabalhava ali perto e decidiu entrar para aproveitar o ar-condicionado. Sentou num banco perto de um jardim, ficou de frente para um quadro e pensou no que levaria a pintarem aquela cena: uma pessoa sentada numa cadeira com algumas frutas numa mesa, nada de especial, nada de pictórico. Pelo menos para ele no caso. Pensou na sua casa que tinha um ambiente igual aquele retratado, que ficava as vezes algum tempo na mesma posição que a retratada, pensou no que tinha de especial aquilo.
Pensou que seria mais interessante se tivessem pintado cenas de romance talvez, como o seu amor não correspondido. Achava bonito pintores que retratavam os seus amores, (como o Modigliani), pois retratar alguém quer que fosse é uma liberdade de cada pessoa para saciar sua paixão, de realização e até mesmo de contemplação. Amor é tão misterioso quanto a arte, quanto a morte. Pensou nessas coisas todas, nesses assuntos tensos, pesados, que poderiam ter sidos retratados, mas não foram, só uma pessoa a pensar numa cadeira e nada mais.
Saiu daquele museu, deparou com o sol que ofuscava daquele prédio branco, pensou que deviam ter pintado de uma cor que não ofuscasse tanto e lembrou dum hotel que se hospedou que era tão branco quanto sem motivo também, mas lembrou que sido boa esta lembrança.
Saiu as ruas de volta ao seu trabalho, multidão que circulava neste horário, adorava esse clima urbano agitado, mas ao mesmo tempo via muito nada naquilo e estar num grande espaço vazio natural, num deserto ou numa floresta, mas fazendo o que lá não sabia, por isso preferia ficar, permanecia naquilo que não sabia o que fazer, tentava ver rosto conhecidos mas os olhos de todos desviavam do seu. Já não via as pessoas com tanto desejo quanto na sua juventude, agora esperava um mínimo de gentileza, mas só encontrava pressa ou distração, pessoas com roupas coloridas e com mentes preto e branco, uma cidade super agitada mas tão entediante quanto aquele quadro que viu, imaginou se ficaria bonito retratar aquela multidão nas ruas num quadro, pelo jeito não, não seria pictórico para ele também, que sentimento passaria, conseguiria passar cada emoção das pessoas que ali transitavam, pessoas atrasadas, correndo, felizes, cansadas, etc. Muitas coisas diferentes, como alguém pode conhecer alguém especial no meio todas essas pessoas, quanto mais pessoas diferentes via, mas sentia falta das que conhecia e via pouco.

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