sábado, 31 de agosto de 2013

visceral

O corpo, o sangue, a estrutura. Tudo o que é repugnante, o que não tem maquiagem, nem cobertura, enfeite ou retoque. Uma pessoa que melhor a estrutura das coisas é capaz de conseguir as melhores alegorias, quem conhece o realmente podre, ridículo é capaz de transforma-lo no inverso. Essa pequena capacidade se deve ao não do que é natural ou o que é artificial, mas saber qual a finalidade de ambos. O sangue no corpo não tem a necessidade de aparecer, sua função não é essa e sim circular. Porém, é necessário ver, a carne e o osso. Saber sua existência, que não aparecer. Não estou falando somente dos bastidores das coisas, mas também das vísceras intrínsecas, do dejetos. Muito do que é não criado com uma finalidade, mas pode vir a ter uma utilização.

vidros quebrados que amedrontam mesmo de se ver

O excêntrico, o novo, brand new, ou só mesmo descaracterizado, é, muito abstrato...
Fique aí garoto, sozinho, construindo seu avião de papel...
Construindo e derrubando seus próprios castelos de cartas, batendo seus carrinhos de brinquedos uns contra os outros e achando isso muito construtivo, adora ver os impactos, acha isso muito vivo. Sempre bota fogo em todo tipo de coisa para ver qual o efeito do fogo em cada objeto e material, como o fogo o consomem, os apaga.
Não gosta de ser visível, gosta de observar os outros - aquela senhorita que usa um brinco enorme, porque será que ela o faz isto, acho que ela deve ser muito importante e muito legal - aqueles garotos cheirando aqueles sacos estranhos parecem roubar minha energia, mas são fascinantes...

Olhares

Às vezes achamos que podemos entender as pessoas, por algum gesto ou algum olhar, mas infelizmente e também felizmente entendemos poucas coisas. Procuramos sempre se identificar com as pessoas que tem o mesmo estilo que nós ou tenha pelo menos alguma coisa em parecido e partir disso achamos que todo o resto será do jeito que a gente pensa. Ficamos animados a conversar sobre os assuntos que gostamos, aquela banda indie que só vocês conhecem ou compartilhar um cigarro.
Mas uma regra que muitas vezes esqueço é que é muito difícil tirar uma conclusão duma pessoa assim que conhecemos, que só conseguimos saber que ela realmente é depois de passamos momentos de alegria e euforia e também de muito tédio e talvez tristeza. Só assim vamos conhecendo as nuances das pessoas e só assim começamos a deixar de ficar surpresos e começarmos a ficarmos satisfeitos com tais atos. As que podem mais nos ferir talvez sejam as pessoas que conhecemos pouco, muitas vezes achamos que elas gostam de nós ou inverso, mas depois um breve contato percebemos que pode ser diferente. Por isso as pessoas que conhecemos pouco nos dão medo, aquele segundo contato é pior que o primeiro.
Já as pessoas que são nossos grandes amigos ou colegas de muito tempo a coisa é diferente, mas pode ser ainda pior, pois a distância nesse caso pode cortar intensamente. Quando vemos ou ouvimos algo que lembra alguma momento sentimos uma sensação de prazer que rapidamente se torna um vazio, sentimos uma vontade misturada de voltar ao passado ou de renegá-lo, mas mesmo assim queremos há uma forte necessidade de ter contato com aquela pessoa que lhe fez compartilhar fortes emoções. Quando a gente tem um vínculo muito forte com uma pessoa, sabemos que se ela ouvisse tal música iria pensar a mesma coisa que a gente, e isso é bom e ao mesmo tempo ruim, porque sabemos que somos pessoas sintonizadas mas destinadas a nem sempre estar por perto ou às vezes em caminhos diferentes.
Por isso penso que alguém que a gente faz sorrir é uma pequena felicidade que essa pessoa pode experimentar para toda sua vida, que talvez a única coisa com que podemos contar são os momentos que aconteceram e que não temos nenhum certeza quando poderemos vivenciar de novo.
Uma tortura é acreditar nas pessoas mais do que elas mesmo acreditam em si, pode ser que alguém também faça isso com a gente. A vontade de ajudar é menor do que a abertura das pessoas para o mundo, para expor suas mágoas, estamos trancados dentro de nós mesmo observando o que se passa na vida por uma pequena fresta, fugindo de quem tenta ver mais além. Ao mesmo tempo desejando ser compreendido ao mesmo contestado, uma enorme dualidade entre aproximação e enclausuramento. Um tal sofrimento é mais um do muitos sutis sofrimentos que a vida pode nos dar com a insegurança de como vamos viver ao acordamos amanhã, não nos damos conta o tão difícil que é tudo isso e que precisamos muito saber que alguém que vive com todas angústias da vida possa estar do nossa lado ajudando-nos a nos informar do próximo obstáculo mais a frente. Mesmo se isso só acontecer entre olhares.

foto - http://www.flickr.com/photos/gonza_photographie/

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Fight or flight

Parece que as vezes precisamos olhar para nós mesmos, não por orgulho ou admiração, mas para ver o que estamos fazendo. Por mais que podemos não dar a mínima para o que de fato estamos fazendo com a nossa vida, é bom olharmos para ver se pelo menos sabemos como estamos.
Pensamos que estamos amando e permitimos sofrer, mas na verdade estamos só nos degradando e se apoiando em alguém. Às vezes é preciso dar razão a seriedade, uma hora saturno chega e dá uma organizada, por mais que eu goste de viver de instintos e desapego, preciso tornar a vida vivível, sem ficar tropeçando no passado. Parar de reclamar de uma vez por todas, deixar de ficar por baixo, por mais que possa cair, não ter medo de ficar em pé, pelo menos viemos para isso.
Uma vez vi que áries precisa despir-se da sua capa protetora para viver intensamente, acho que finalmente estou entendendo isso. Talvez antes até precisasse dela, mas agora é lutar ou correr, não há mais tempo para tentativas. Isso é bom também porque com o tempo as experiências são mais reais na nossa vida, pensamos melhor um pouco antes de ficarmos desesperados porque a correspondência não chegou ainda. Mas, acho que o instinto que diz ser criança ainda existe, pode existir, e podemos fazer dele o que talvez nem fizemos antes. Acho que somos um só durante toda a vida, por mais que diga-se que muda e tal, mas acho que ainda permanece naquela coisa da essência e com o envelhecer talvez ganhamos algumas recompensas, só por poder por um simples momento ter paz de espírito por finalmente ter visto um nascer do sol ou por realmente isto ter feito alguma diferença.