terça-feira, 10 de maio de 2011

bastidores

te encontro todas as vezes que saio do palco, lá preparando os figurinos, dançando com os manequins e penso que aquilo signifique algo pra mim, mas tenho estado muito ocupado pra reparar nessas coisas vou embora depois de mais um dia desgastante...
acordo, levanto, pego os jornais na mesa, vejo qualquer coisa sobre acidentes e críticas sobre a peça teatral, nunca consigo agradar esses críticos, nem a público direito, mas ninguém deixa que eu fique uma estação só sem atuar e ficar recebendo suas lições de moral...
saio do prédio apressado, não quero conversar com o porteiro hoje, deve ser porque ele vai me cobrar seu guarda chuva que peguei emprestado faz uma semana e esqueci de novo de devolver pra ele e no mais vai querer falar de futebol, se meu time estivesse pelo menos numa situação interessante eu falaria qualquer coisa, chego na calçada, ele me chama, finjo que estou no tele-móvel e chamo o táxi que acaba de passar... é, deveria ir de ônibus da próxima vez, não aguento mais gastar com esses motoristas que não sei porque acho que sempre querem me explorar, ah, eu que sou miserável mesmo...
então, chego mais uma vez no velho teatro do centro da cidade, você está bebendo café lendo o script, compro uma xícara pra mim, as vezes você faz isso, porque sabe que eu sempre te peço, me culpo por isso, mas eu não sabia que você estava esperando com esse café em alguns dias frios que nem ousei sair de casa... me contaram... pessoas contam essas coisas... eu não liguei, não costumo ficar ligados em coisas essenciais assim, porque talvez, fiquei pensando no cachorro que me seguiu até aqui e você o colocou pra fora,
você mais uma vez ensaia comigo, porque a "estrela" com quem eu durmo, teve que mais uma vez ir pra Paris resolver aquele caso da censura... não, não sou traído, até brutus meu pior adversário diz não ser páreo, mas digamos esse não é ponto, que nem aquele velho filme de garota abstrata que não está satisfeita com seu relacionamento (não está? talvez esteja) uma traição seria bom até... mas eu, estou sempre em outro planeta, discutindo meu contador, com o taxista, com o veterinário meu amigo que disse que meu cavalo precisa de isso e não sei o que (é só um cavalo, faça o que quiser).
e você, que fica na contra-regra, te achava mais legal... mas depois você disse que não gosta de cavalos e fica jogando baralho na decadência do seu apartamento com aqueles cidadãos estranhos que tenho até medo...
eu não imagino porque nossos mundos distanciaram tanto... o palco antes estava bem mais pra dentro dos bastidores, agora essa luz me ofusca um pouco mas não me aquece tanto quanto o café da manhã... se tivesse croissant seria perfeito...
mais uma vez você com seu óculos velha estilo lê esses papéis e aponta o café pra mim e eu fico enrolando quando chega alguém e acaba com minha alegria e manda falar aquelas loucuras daquele direto sueco, maldita hora que fui conhecê-lo na casa da fernanda e fala-lo da minha cidade, no outro mês ele veio pra e estabilizou na cena cultura, no começo achei legal seu futurismo, agora acho que... quero café...
então, você sempre faz aquelas alterações que eu adoro no texto sem o diretor saber e ele fica louco... é ótimo mas... quando cheguei na sua casa quarta a noite todo molhado pedindo o texto você me tratou muito mal e nem falou direito comigo, estranho...
estranho foi que agora lembrei o quanto fui apaixonado por você quando cheguei no teatro e você cheio de coisas pra fazer me deu um monte de tarefas e saia correndo pra todo lado e eu adora aquela energia mas depois da primeira peça as coisas meio que mudaram de lugar...
você sempre se escondendo entre estas cortinas, e quando eu bebo o café em casa, penso nessas manhãs com você.

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